Bordéus, a maior região vinícola da França, enfrenta uma séria crise
Para alguns produtores de vinho, coloca-se a questão de "continuar ou não".

Bordéus, a maior região vinícola da França, enfrenta uma séria crise devido à sobreprodução e à falta de procura.
Enquanto os Châteaux de renome têm poucos problemas para vender seus vinhos, a maioria da produção de vinho tinto - vinhos genéricos de entrada de gama - enfrentam dificuldades para encontrar compradores.
Para alguns produtores de vinho, coloca-se a questão de "continuar ou não".
No último ano, apenas cerca de 3,98 milhões de hectolitros foram vendidos, representando um declínio de 5%. Para lidar com o excedente, há autorização para o arranque de vinhas, eliminando quase 10% da maior área vitícola francesa. Para o excedente ou o stock dos anos anteriores há um destino diferente: a destilação.
Esta questão não é nova. Em 2005, foram destilados cerca de 180 000 hl quando a produção anual excedia os 6 milhões de hl. Nessa altura, discutiu-se também a possibilidade de arrancar até 10.000 hectares.
A crise atual não afeta somente Bordéus, outras regiões vitícolas, como Languedoc e Vale do Ródano, também enfrentam problemas semelhantes e têm recorrido à destilação para lidar com os excedentes não comercializáveis.
Os preços en primeurs dos "Grand Vins" continuam a subir a cada ano, mas representam apenas cerca de 5% da superfície total das vinhas. A grande maioria da produção é destinada às denominações de base Bordeaux e Bordeaux Supérieur, que juntas representam 43% da superfície total das vinhas.
Mais de metade do vinho da região, 55%, é consumido em França. No entanto, o consumo tem vindo a diminuir há anos. Em 2022 o consumo em França baixou para 40 litros per capita, e estudos indicam que essa tendência vai continuar.
A base de clientes que ainda percebe as diferentes denominações em Bordéus está a envelhecer. Bordéus estabeleceu o seu perfil no segmento ultra-premium, com as adegas mais prestigiadas a funcionarem como marcas. No entanto, a região quase não foi apresentada aos consumidores abaixo desse nível.
Para inverter este cenário, a região de Bordéus precisa diversificar sua estratégia, procurando mercados externos e atraindo novos consumidores para além do segmento ultra-premium, onde sua imagem está mais consolidada. A diversificação é vista como essencial para reduzir a dependência do mercado interno francês e garantir a sobrevivência dos produtores de nível básico.
A crise levanta preocupações sobre o futuro de muitos viticultores, especialmente os que produzem vinhos de nível básico e não conseguem encontrar sucessores ou compradores para suas vinhas. A eliminação subsidiada das vinhas é vista como uma saída para esses produtores, permitindo-lhes encerrar suas atividades vitivinícolas e receber uma compensação financeira.
Nesse cenário desafiador, a indústria vinícola de Bordéus e outras regiões precisam encontrar soluções para equilibrar a produção, a procura de novos mercados, e assim garantir a sustentabilidade do setor.
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