O “Parker” que vive em cada um
Manuel Moreira • 4 de março de 2021
Robert Parker um dos personagens mais destacados na história recente do vinho, que de forma muito simplória e genérica ficou associado ao suposto favorecimento de um estilo de vinho. Em especial para Bordeaux, o seu impacto foi tal que levou a criação do conceito do “Vinho Parker” ou “Parkerização”.

Quem tiver interesse, vale a pena recuar ao tempo antes do Parker, o que era o papel do critico antes e depois dele, como era o mercado e como era o consumidor, assim como os seus contemporâneos com destaque por exemplo o famoso enólogo Emile Peynaud e ao seu papel, digamos, revolucionário na região de Bordéus.
Já agora, tenho um exemplar da edição de 2002 do seu guia que para mim é das melhores obras como guia de vinhos que conheço e que já avançava com um capítulo sobre vinhos biológicos, uma década antes da aprovação oficial, pelo menos em Portugal.
Mas estas linhas não são para fazer o elogio ou a crítica ao Parker. Mas para dar conta dos novos “Parker”. O “Parker” que vive em muitos dos que falam sobre vinho. Onde está a diferença? Ora bem, o Parker original visava com as suas opiniões ajudar o consumidor na decisão de escolher um vinho. Os “Parker” atuais, querem impor um estilo ou impor que um vinho com este ou aquele atributo é que é bom! Senão vejamos.
Se um vinho tiver 14% de teor alcoólico já é muito. "E pá! Isso é muito alcoólico! O vinho de 11% ou 12% no máximo, é que é bom!". Curioso, que para regiões quentes como são muitas das portuguesas 14% torna o vinho pesado, que é muito diz-se, mas para uma região fresca como a Borgonha onde os melhores vinhos estão nas parcelas mais expostas e orientadas a sul para poder amadurecer convenientemente e com frequência atingem os 13,5% e muitas vezes 14%, já são elegantes! Se o vinho com menos álcool é que é o trend, não me apercebo do aumento substancial de notoriedade do Vinho Leve de Lisboa, que ronda os 9%-10%.
É rotulado de consumidor iniciante aquele que aprecia um vinho com açúcar. Dizem outros “Parker”. E eu que gosto daquela quantidade porreira de açúcar do Mateus Rosé que o torna jovial e descontraído! Ah! e então aquele Auslese da Mosel com uma deliciosa e luxuriante quantidade de doçura! Ou um incrível e pecaminoso Sauternes! E aquele Moscato D’Asti fresquinho com um petisco! Quem me tira um Vinho do Porto muito velho com mais de 150 g de açúcar tira-me tudo! Talvez, mesmo eu tendo mais de duas décadas a lidar com o vinho, talvez ainda seja um iniciante. Não sei se no que me resta de vida ainda irei a tempo de passar a minimamente educado em vinho.
Este vinho é autêntico. Aquele não é! Recomendam vivamente outros “Parker”. Espera lá, digo eu! Mas uns são vinhos autênticos e outros não são autênticos vinhos? Fiquei confuso! Vou, mas é continuar a beber …simplesmente vinho.
Agora sou eu que vou exercitar o “Parker” que vive mim. "O que têm de beber é vinho, vinho bom e equilibrado! Vinho adequado a cada momento, que lhe sabe bem!". Nem quero pensar quando cá chegar em força o vinho em lata, os hard seltzer de vinho ou o vinho infusionado com cannabis.