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As dores de crescimento de Washington

Manuel Moreira • ago. 12, 2023

Nos últimos 30 anos, a indústria vinícola de Washington experimentou um crescimento impressionante, passando de 100 adegas para mais de 1000 e de 4.500 hectares de vinha para mais de 20.000 hectares.

No entanto, apesar desse rápido crescimento, há sinais de desequilíbrio entre oferta e procura, levando a preocupações sobre a saúde da indústria. 

A Ste Michelle Wine Estates, o maior produtor do estado, recentemente anunciou uma redução de 40% no na compra de uvas nos próximos cinco anos, indicando a necessidade de garantir a estabilidade tanto do seu negócio quanto da indústria vinícola de Washington como um todo. Não há compradores alternativos evidentes para preencher essa lacuna.


A decisão da Ste Michelle Wine Estates de reduzir seu fornecimento de uvas em 40% nos próximos cinco anos não é casual. Acontece após a aquisição da empresa por 1,2 bilhão de dólares pela Sycamore Partners, empresa de capital privado. No ano anterior à aquisição, a empresa havia registado um prejuízo de 360 milhões de dólares.


A Sycamore Partners está focada em se desfazer de partes não essenciais do negócio, como a venda da participação na Stag's Leap Wine Cellar em Napa, visando concentrar-se na região do Noroeste do Pacífico. Podem estar empenhados a nível regional, mas não há espaço para sentimentalismo no seu plano de negócios. E, à medida que reduzem a produção, muitos produtores vão andar à procura de compradores para a sua fruta nos próximos anos.


Será este o fim de um sonho irrealista? O rebentar de uma bolha? Será que, em suma, já atingimos o pico do Estado de Washington? A resposta, esperam muitos produtores, é não.


A indústria vinícola do Estado de Washington apresenta uma dinâmica peculiar, com um grande produtor, a SMWE, responsável por uma parcela significativa do vinho da região, e um grande número de pequenas adegas com modelos de negócios distintos.


A Château Ste Michelle, parte da SMWE, obteve sucesso com vinhos na faixa de 9 a 11 dólares, mas esse segmento de mercado agora está menos popular. Por outro lado, cerca de 90% das adegas em Washington produzem menos de 5.000 caixas por ano, vendendo muitas delas no retalho por 25 dólares ou mais. As adegas super-premium têm demonstrado bom desempenho na região.


O Estado de Washington tem sido alvo da atenção de renomados nomes da indústria vinícola global. Empresas como Jackson Family, Cakebread, Gallo e Duckhorn adquiriram terras na região. Destaca-se a parceria entre Antinori's Col Solare e Chateau Ste Michelle, que brilha em Red Mountain, enquanto Eroica, fruto da colaboração com Ernst Loosen, é amplamente considerado o melhor Riesling dos EUA. A presença de pesos pesados como Valdemar de Rioja também é notável, com a recente construção de uma adega em Walla Walla, que representou um investimento considerável.


É essencial a construção de uma marca forte para o Estado de Washington.


Apesar de ter um mercado interno robusto o desafio reside em expandir as exportações. A maioria dos produtores, apesar de um crescimento sólido, enfrenta restrições no mercado internacional, com apenas cerca de 5% do vinho do estado é enviado para fora dos Estados Unidos. Conquistar maior presença global é um objetivo crucial.

 

A decisão da Ste Michelle Wine Estates (SMWE) de reduzir os volumes de produção deixará muitos viticultores em busca de compradores, provocando uma possível redução nos preços por tonelada e a necessidade de arrancar 4.000 hectares de vinha.

Essas medidas podem impulsionar o volume de vinho a preços mais acessíveis para as adegas de médio e pequeno porte, estimulando seu interesse pela exportação.


A indústria vinícola de Washington enfrenta o desafio da falta de um vinho ou variedade de assinatura distintiva.

Embora cultive muitas variedades diferentes com excelência, a ausência de um estilo de vinho icônico, uma Proposta Única de Venda, dificulta a promoção da região a novos clientes.


Isso, apesar de ser benéfico para os consumidores que exploram a diversidade de vinhos de Washington, cria um obstáculo na comercialização da região para um público mais amplo.


Outro desafio é a estratégia de preço. Sendo conhecida por não ser uma fonte de vinhos de prateleira de baixo custo ou de entrada. A região é caracterizada por oferecer uma relação qualidade-preço vantajosa, porém, começa com preços mais elevados, o que pode limitar a acessibilidade a mercados em busca de vinhos mais acessíveis.


artigo original aqui

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