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Micorrizas ao serviço das videiras

Manuel Moreira • mai. 29, 2023

As micorrizas podem ser preciso aliado na defesa das vinhas. Enquanto se buscam formas criativas de aliviar os impactos das alterações climáticas, alguns métodos antigos estão a aparecer quando menos se espera.

Ao deixar as camadas mais profundas do solo intocadas, permite-se a proliferação de fungos micorrizas que são tudo menos novidade.

Os fungos micorrizos desenvolveram uma relação de benefício mútuo com as plantas.


Estes fungos, constituídos por filamentos e corpos de frutificação de cogumelos (o caule e o chapéu), fixam-se às raízes das plantas e vivem dos seus hidratos de carbono. Por sua vez, ajudam as raízes a absorver mais água, fósforo, azoto e outros compostos químicos essenciais para a saúde das videiras.

 

Esta relação simbiótica, denominada micorriza, está presente em, pelo menos, 90% de todas as plantas terrestres. Os viticultores aperceberam-se de que, se adotarem uma abordagem regenerativa da sua agricultura, podem ser capazes de aproveitar os impactos positivos das micorrizas para as suas vinhas.

 

Uma resposta às doenças da vinha


A maioria dos viticultores vê os fungos como uma coisa má; o míldio e a podridão negra podem danificar uma colheita inteira.


As micorrizas encorajam as vinhas a serem mais resistentes face ao aumento da pressão de doenças, pragas e aumento das temperaturas.

 

"Os fungos podem espalhar os seus esporos, mas os vírus das plantas não se podem mover sozinhos", diz o Dr. Eskalen, fundador e director do Centro de Investigação de Cogumelos da Áustria. "Precisam de um vector - por vezes humanos, muitas vezes insectos. Devido às alterações climáticas, estamos a assistir a um aumento da actividade dos vectores."


As plantas que antes eram capazes de evitar certas doenças estão agora a ser sobrecarregadas com estirpes mais agressivas.

É aqui que as micorrizas positivas lutam.


Ao aumentar os nutrientes na planta e ajudar as videiras a fortalecerem-se contra o risco de doenças e pragas, as videiras têm mais possibilidades de sobreviver.


Para além do aumento da ingestão de nutrientes, as micorrizas ajudam as videiras a reter água durante uma média de duas a três semanas mais do que uma videira que não tenha sido colonizada por micorrizas.


As micorrizas não só ajudam as plantas a absorver mais água, como a sua presença incentiva uma ingestão de água mais eficiente. À medida que as temperaturas aumentam e a humidade diminui nas regiões vitícolas de todo o mundo, incentivar o crescimento das micorrizas é uma vantagem para a viticultura.

 

As micorrizas são somente uma parte de um quadro mais vasto


Devido ao trabalho envolvido, confiar nas micorrizas para aumentar a saúde das videiras não é um antídoto da noite para o dia.

Mas pode valer a pena fazer um esforço extra para encorajar a colonização micorrízica.


A eliminação de fertilizantes artificiais, o uso de culturas de coberto para aumentar a diversidade de plantas e na manutenção de camadas mais profundas do solo intactas para não rasgar as fibras que podem levar anos a crescer novamente, são algumas das opções.


Cada uma destas práticas ajuda a incentivar as micorrizas, mas cabe aos viticultores desenvolver uma abordagem regenerativa, mas a adopção deste tipo de práticas tem sido lenta.


Já existem biofertilizantes enriquecidos com micorrizas, que ajudam a estimular o desenvolvimento do fungo. Mas nada substitui o desenvolvimento das micorrizas em condições ambientais naturais, como diz um produtor alemão "Não vão sobreviver num pedaço de argila morta."


Todavia o foco deve estar no quadro geral. "As micorrizas são definitivamente uma parte do que um ecossistema funcional precisa para ser forte. E é apenas uma parte disso”. 



Texto original aqui


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