Opinião: Restaurantes em saldo ou trabalhar para aquecer
Restaurantes com desconto de 50%. Ou os restaurantes estão tão saudáveis o que lhes permite abdicar de 50% de potencial receita ou estão tão mal, e que estão por tudo, consentindo a uma forma de promoção, de tal forma agressiva, que nos remete para o período saldos ou liquidação tal como faz uma loja de roupa ou a promoção de um lava-tudo numa qualquer superfície comercial.
Ora, o problema, está precisamente aí. Um restaurante não é um negócio como uma loja de roupa, ou supermercado, é uma atividade muito mais complexa, que contém um conceito de serviço muito distinto, com matérias-primas limitadas no prazo de validade e a exigir a transformação das mesmas e a saída diária de recursos financeiros, quer o restaurante tenha clientes ou não.
Menos se compreende no momento em que que se assiste a um aumento de preços, agravamento do custo das matérias-primas tal como os preços da energia e combustíveis, a inflação, a falta de pessoal, e por aí fora. Tudo a fazer aumentar e sobrecarregar os custos operacionais. Sabendo que, em geral, as margens de lucro da restauração tradicional são
baixas, a rondar os 10%, ou ainda mais reduzidas, ainda assim liberta 30%-50% de receita para promoção?

Ou será que não se faz contas? Ou então, o caso é bem pior, não as sabem fazer. Quantos destes restaurantes sabe exatamente quanto gasta e quanto ganha? Pois o usual, nesta atividade, é a gestão ser orientada pelo instinto, como referido neste inquérito ao tecido empresarial português. Ou então, ainda mais desolador, é estar entre a espada e a parede e tudo fazer para tentar faturar alguma coisa, mesmo que sejam só uns trocos. Como se pode ver neste artigo, referindo-se a 2018 fundado em dados do Banco de Portugal, em que 46,4% das empresas do tipo tradicional (CAE 56101) “não têm ativos suficientes para cobrirem os passivos e 43,1% destas empresas tiveram um resultado negativo”.
Esta é a única razão que vejo para se estar presente numa campanha promocional em que os descontos que chegam a 50%. Justifica esta forma de fidelização ou captação de novos clientes quando existe um desconto de 50% sobre preço médio 15€-18€? Será que os clientes ao usufruir de descontos permanentes voltam quando o preço estiver sem qualquer promoção? A minha experiência diz que não. Mas talvez haja outras experiências em sentido contrário, quem sabe. Alguém faz muito bem o seu trabalho, enquanto outros trabalham para aquecer.